Rec-Beat 2025: último dia traz ritmos e narrativas poderosas com Matheus de Bezerra, Tássia Reis e Duquesa

Com um line-up forte, o último dia do festival reafirmou sua importância na valorização da cena musical contemporânea.

Duquesa @ Rec Beat 2025 por Hannah Carvalho @hnnhcrvlhfotografia 10
(Foto: Hannah Carvalho/ Divulgação)

A 29ª edição do Rec-Beat chegou ao fim nesta terça-feira gorda (29). Nos últimos quatro dias o festival ocupou o Cais da Alfândega e trouxe para o palco, como de costume, um line-up eclético que misturou ritmos populares, música eletrônica, samba, indie rock e mais.

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Na noite de ontem, a DJ recifense Camila Paz foi quem abriu o palco e comandou os intervalos com sets baseados nos gêneros com raízes na música negra como o soul, o funk, o disco e o house.

Dj Camila Paz @ Rec Beat 2025 por Hannah Carvalho @hnnhcrvlhfotografia 3
DJ Camila Paz (Foto: Hannah Carvalho/ Divulgação)

Iniciando a sequência de shows, o cantor e compositor recifense Matheus de Bezerra levou ao palco do festival um repertório que mescla músicas de seu segundo álbum, Quase-Romântico-Malokero-Suburbano (2023), e singles lançados de forma independente ao longo de 2024, entre eles “Multicolorida”, que faz parte do próximo álbum do cantor, que ainda está sendo produzido.

Matheus cria sua música a partir da perspetiva de um jovem artista nascido e criado nos subúrbios do Recife, um caminho narrativo inspirado pela vida do próprio cantor, que começou a compor e produzir sozinho em casa com ferramentas improvisadas.

O show ainda teve a participação de outros artistas; a primeira convidada foi a sanfoneira Karol Maciel e o cantor Ivyson, nome forte do pop pernambucano, com quem Matheus cantou a faixa “Fotossíntese”, parceria entre os artistas lançada em 2020. Ao falar sobre a música, Matheus relembrou o dia em que os artistas se conheceram e a música foi criada, dentro do Paço Alfândega, shopping que fica ao lado do palco do Rec-Beat e de onde os artistas foram expulsos e vítimas de racismo. “A gente foi expulso dali [Paço Alfândega] e veio parar aqui [no palco]”, disse o cantor.

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Matheus de Bezerra (Foto: Hannah Carvalho/ Divulgação)

A terceira atração da noite, O Baile do Mestre Cupijó, veio de Belém do Pará e homenageia o legado Mestre Cupijó, artista paraense que contribuiu com a reinvenção de diferentes ritmos populares do estado e sua introdução à indústria radiofônica, principalmente o ritmo siriá, a joia do repertório da banda, que também toca o mambo, o banguê e mais.

A terceira atração da noite, Tássia Reis, trouxe para o Rec-Beat o show que mesclou sucessos antigos como “Dollar Euro” e faixas recentes do seu último álbum Topo da Minha Cabeça, entre elas “Rude”, parceria com o DJ e produtor EVEHIVE, e “Tão Crazy”, feat com Theodoro Nagô.

O topo da cabeça de Tássia Reis

Bem-humorada, a rapper relembrou a primeira vez que se apresentou no festival, em 2018, quando veio com o grupo Rimas & Melodias, projeto que reuniu mulheres da cena nacional do rap, entre elas Tássia Reis, Stefanie, Alt Niss e Drik Barbosa.

Nos últimos meses, Tássia tem celebrado os 10 anos de carreira, projeto que culminou no seu último disco, finalizado após um período difícil em que a artista enfrentou problemas sérios de saúde. Como uma forma de lidar com tudo que aconteceu em sua vida, o álbum foi uma forma de voltar “à minha cabeça, à mim mesma, ao meu ori”, disse à Revista O Grito!.

Tassia Reis @ Rec Beat 2025 por Hannah Carvalho @hnnhcrvlhfotografia 7
(Foto: Tássia Reis/ Divulgação)

Mesmo tendo passado por momentos tão críticos, a rapper mantém uma leveza dentro e fora dos palcos, com um show descontraído, bem pensado, com a dosagem certa de agitação e calma. “Eu amo esse palco, amo o Rec-Beat, amo o Recife e voltei aqui para ver se as pessoas ainda me amavam.”, brincou a rapper.

Para aquecer o público antes do show da Big D, a DJ portuguesa Nídia subiu ao palco. Nascida em Cabo Verde e criada em uma zona periférica de Lisboa, a artista estuda gêneros africanos e afrodiaspóricos na sua pesquisa musical, passando pelo Kuduro, Kizomba e House. No Rec-Beat, a DJ desviou dos seus caminhos tradicionais e deu espaço também às variações do funk brasileiro, construindo um set bastante agitado e de graves intensos. Em um dos momentos mais divertidos da noite, Nídia convidou quatro pessoas que estavam no público para subir ao palco e promoverem uma competição de rebolado.

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(Foto: Hannah Carvalho/ Divulgação)

Big D: um show para as gostosas inteligentes

Fechando a 29ª edição do Rec-Beat, Duquesa lotou o Cais da Alfândega de fãs e curiosos. Nome forte do rap nacional, a artista baiana faz parte de um movimento de nomes femininos jovens que criam seus versos a partir de suas perspectivas enquanto mulheres negras brasileiras, lugar poético para discutir sobre racismo e machismo ao mesmo tempo que falam sobre autoestima, sexualidade, sucesso e reconhecimento.

Com o show do seu último disco, Taurus Vol. 2 – que inclusive está na lista de Melhores Discos de 2024 da Revista O Grito! -, a rapper de Feira de Santana (BA) conquistou ainda mais fãs e reconhecimento no último ano. Convocando as “gostosas inteligentes”, o público foi à loucura com hits como “99 Problemas”, “Turma da Duq” e “Milionário e José Rico”.

Duquesa quis homenagear o brega-funk e convidou a MC Rayssa Dias ao palco, que performou alguns dos seus sucessos recentes e utilizou o espaço do palco para apontar a falta de representatividade no palco Recife Capital do Brega, que não trouxe nomes femininos do brega-funk.

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Duquesa e Raysa Dias (Foto: Hannah Carvalho/ Divulgação)

Após a participação da MC Rayssa Dias, Duquesa encerrou sob os pedidos de bis do público, que pediu especificamente para a rapper performar “Pose”, parceria com Urias. Com aplausos e gritos, a última atração do Rec-Beat 2025 desceu do palco.

A 29ª edição do Rec-Beat reafirmou seu papel como um espaço de valorização da diversidade musical e cultural, reunindo artistas de diferentes estilos e trajetórias. Durante quatro dias, o festival ofereceu ao público um panorama amplo da produção contemporânea, promovendo encontros marcantes e dando visibilidade a vozes que refletem a riqueza e a complexidade da cena musical atual. Com uma programação que transitou entre tradição e inovação, o evento se consolidou mais uma vez como um importante palco de expressão artística e representatividade. Agora aguardamos ansiosos pelos 30 anos do festival.