Carnaval 2025: Raphaela Santos, Ney Matogrosso e Marron Brasileiro iniciam festa no Marco Zero

Entre o maracatu, o brega e o frevo, o primeiro dia do Carnaval do Recife exalta a diversidade musical

Copia de Copia de Post Noticias 23
(Foto: Wagner Ramos/ PCR/ Divulgação)

Com todos os clichês que essa frase carrega, o Carnaval realmente parece abrir um portal para outra dimensão dentro do Recife. Durante alguns dias, a cidade se transforma completamente pela vontade de milhões de foliões que tomam as ruas. Na noite desta quinta-feira (27), o Bairro do Recife havia acabado de passar por sua metamorfose, agora iluminado por luzes coloridas e preenchido por diferentes sons a cada esquina.

No palco Marco Zero, polo principal do Carnaval do Recife, o Tumaraca – Encontro das Nações de Maracatu reuniu diversas nações de maracatu sob o tema “Maracatu Futuro Ancestral”, uma exaltação às raízes culturais brasileiras nutridas pelo povo negro. A apresentação contou com a participação de Chico César, que emocionou o público ao cantar “Mama África” ao som das alfaias.

54355340678 f65a5dfb9c k
Tumaraca – Encontro de Nações de Maracatu (Foto: Brenda Alcântara/ PCR/ Divulgação)

Marron Brasileiro: Carnaval é espetáculo

O homenageado do Carnaval do Recife neste ano, Marron Brasileiro, abriu os shows do palco Marco Zero com “Arreia a Lenha”, uma de suas composições mais conhecidas, que se tornou parte do cancioneiro popular do carnaval pernambucano. Natural da Mustardinha, bairro da zona oeste do Recife, Marron se destacou pelo tom eclético de suas composições, que misturam elementos da música pop com ritmos locais.

O show do artista, que era uma homenagem a ele mesmo, também celebrou a música pernambucana em sua diversidade. Com canhões de confete, serpentinas e fogos de artifício, o espetáculo de Marron reverenciou o frevo, o brega e as manifestações da música contemporânea local.

54355392908 6bbff2cda4 k 1 1
Marron Brasileiro (Foto: Brenda Alcântara/ PCR/ Divulgação)

Para construir essa narrativa, o cantor convidou artistas como Martins, Almério e Larissa Lisboa, a quem se referiu como a “nova geração” da música pernambucana. Acompanhado por um balé de passistas, o quarteto apresentou um medley de canções como “É Tanto Amor” e “A Vida Inteira te Amar”. Também participaram do show Ciel, Romero Ferro e Barro, representando esse mesmo movimento da música contemporânea local.

O brega, reconhecido por Marron como um gênero musical periférico e essencial para a identidade local, também teve seu espaço garantido no show. Subiram ao palco nomes como Conde Só Brega, Michelle Melo e Dany Myler. Mais tarde, Nena Queiroga e Gerlane Lops também participaram da festa.

No encerramento, Marron Brasileiro convidou os outros homenageados do Carnaval do Recife: Elba Ramalho – que se apresenta nesta sexta-feira com Alceu Valença e Geraldo Azevedo no show “O Grande Encontro” – e a Troça Abanadores do Arruda.

54355574675 299040e361 k
Dany Myler, Conde Só Brega, Marron Brasileiro e Michelle Melo (Foto: Brenda Alcântara/ PCR/ Divulgação)

Ney Matogrosso trouxe seu bloco para as ruas do Recife

Brilhando dos pés à cabeça, Ney Matogrosso subiu ao palco do Marco Zero com a música “Eu Quero É Botar Meu Bloco na Rua”, regravação presente no álbum Bloco na Rua (2019). O show trouxe um repertório de regravações marcantes, como “Pavão Mysteriozo”, de Ednardo, e “Jardins da Babilônia”, de Rita Lee, além de clássicos de sua própria carreira, como “Yolanda”, “Sangue Latino” e “Como 2 e 2”.

A performance atual de Matogrosso, aos 83 anos, conserva a mesma teatralidade e excentricidade que fizeram dele uma estrela 50 anos atrás. Irretocável, Ney ainda tem o mesmo rebolado, a mesma sagacidade e a mesma força em cima dos palcos. 

54355681305 6f476359bb k
Ney Matogrosso (Foto: Wagner Ramos/ PCR/ Divulgação)

O show tem um tom teatral e sóbrio, sem confetes, serpentinas ou dançarinos, um contraste quase que instantâneo do tom épico que Marron Brasileiro deu no show de abertura. A atenção do público estava só em Ney e nada mais. 

Sem grandes interações com o público, ainda era possível dizer que o cantor estava feliz durante o show, no momento em que abriu o peitoral da roupa e foi chamado “tesão”, “bonito” e “gostosão” pelo público, no rebolado dos quadris e na “pegadinha” falha de fingir que iria acabar o show; pequenos sinais que mostravam o entusiasmo velado. No encerramento, o momento mais enérgico do show com “Pro Dia Nascer Feliz”, cantada com um coro forte do público. 

54355539868 883a0f8732 k 1 1
Raphaela Santos e o público (Foto: Wagner Ramos/ PCR/ Divulgação)

Raphaela Santos: A Favorita do Público

“Então, a gente soube [sobre o convite para se apresentar] acho que foi depois do finalzinho do ano, e aí já começamos a nos preparar, a pensar em uma abertura impactante, que chamasse a atenção. Também pensamos no repertório, porque tem que ser algo que a gente goste, mas que também conecte com o público que vem de fora, para que todos possam conhecer nosso ritmo e nossa cidade. Mas, é óbvio, sem nunca sair do brega. Tenho certeza de que vai ser uma noite muito especial”, disse Raphaela Santos à Revista O Grito! minutos antes de subir ao palco do Marco Zero.

Em seu auge, Raphaela Santos encerrou o primeiro dia do Carnaval do Recife com um show arrasa-quarteirão, confirmando-se como uma das maiores vozes do brega. A cantora abriu sua apresentação com uma versão “bregalizada” do frevo clássico “Voltei, Recife”, acompanhada por passistas, caboclos de lça e dançarinos de brega-funk – uma declaração incontestável de que o brega é uma parte indissociável da cultura pernambucana.

Ao longo do show, Raphaela passa entre os clássicos das antigas, os seus últimos lançamentos e versões em Brega de músicas nacionalmente conhecidas, como “Nosso Primeiro Beijo”, de Gloria Groove, ou a “Você Me Vira a Cabeça”, de Alcione.

54355517469 7be0cb89b0 k
(Foto: Wagner Ramos/ PCR/ Divulgação)

Como outros nomes grandes do gênero, a maior qualidade de Raphaela Santos é sua habilidade de conversar com o público, dentro e fora dos palcos. O show é uma grande conversa entre a cantora – que está sempre chegando perto, dando a mão, acenando e olhando para a plateia – e o seu público – que acena de volta, grita e manda beijos com a intenção de chamar a atenção da cantora. Essa capacidade de criar uma forma de diálogo fica ainda mais evidente quando o público acompanha o show inteirando cantando, sem um momento de silêncio.

O primeiro dia do Carnaval do Recife mostrou a diversidade e a força da música pernambucana, exaltando tanto suas tradições quanto sua capacidade de inovação. Entre ritmos ancestrais e contemporâneos, o Marco Zero abriu caminho para os dias seguintes de festa.