A viralização de imagens e tirinhas geradas com inteligência artificial, replicando o estilo visual da Turma da Mônica, levou a Mauricio de Sousa Produções (MSP) a se pronunciar publicamente sobre o uso da tecnologia para imitar obras autorais. As criações, produzidas a partir da ferramenta Images for ChatGPT e compartilhadas amplamente nas redes sociais, reacendem o debate sobre os limites éticos, legais e artísticos da aplicação de IA no campo das artes visuais.
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Seguindo uma tendência que já havia atingido o Studio Ghibli — com milhares de imagens no estilo de filmes como A Viagem de Chihiro sendo geradas e divulgadas online —, o universo criado por Mauricio de Sousa se tornou o mais recente alvo da apropriação algorítmica. Em meio à onda de montagens com os personagens brasileiros, o estúdio reiterou que a criação automatizada de conteúdos que utilizam sua identidade visual não é autorizada.
Em nota enviada à imprensa, a MSP declarou:
“A MSP Estúdios reforça que o uso de qualquer elemento relacionado aos personagens está protegido por leis de direito autoral e propriedade intelectual. Não autorizamos a criação de conteúdos que violem esses direitos, nem admitimos associações com discursos de ódio, desinformação ou práticas que contrariem os valores da empresa.
Há mais de 60 anos, defendemos a ética e o compromisso com a cultura e agiremos sempre que esses princípios forem desrespeitados.
Reconhecemos o valor da inteligência artificial como ferramenta de experimentação e inovação, mas reforçamos que ela deve atuar como apoio, e não substituição, à criação artística.
Quando tenta reproduzir o traço da Turma da Mônica, a IA apenas ecoa, de forma limitada, uma linguagem visual única, construída ao longo de décadas pelos artistas da MSP Estúdios. Mais do que um estilo, esse traço carrega narrativas, emoções e a sensibilidade humana, algo que nenhum algoritmo consegue replicar por completo.”

A questão envolve uma prática cada vez mais comum: o uso de ferramentas de IA para reproduzir traços, paletas de cores e estilos visuais de obras já consagradas, muitas vezes sem autorização ou crédito aos artistas originais. O caso da Turma da Mônica segue o de estúdios como o japonês Studio Ghibli, cujas animações foram amplamente utilizadas como referência estética em montagens geradas com IA. A repercussão levantou críticas sobre a apropriação indevida de linguagens artísticas e a descaracterização do processo criativo humano.
A discussão também evidencia preocupações maiores envolvendo o uso da tecnologia no setor cultural, incluindo os impactos ambientais da produção em larga escala de imagens por IA, a violação de direitos autorais e a desvalorização simbólica do trabalho artístico coletivo.
Para saber mais, leia a reportagem da Revista O Grito! sobre o tema: O que resta da arte quando o processo é apagado? Studio Ghibli, IA e o esvaziamento simbólico da criação artística.